Tradição e fé: por que muitos evitam carne na Sexta-feira Santa?
- Gabriel Leal
- 18/04/2025 09:31

Na Semana Santa, um dos costumes mais seguidos por cristãos ao redor do mundo é a abstinência de carne vermelha na Sexta-feira Santa. Mas qual a origem dessa prática e o que ela realmente significa?
A Sexta-feira Santa, celebrada dois dias antes da Páscoa, relembra a crucificação e morte de Jesus Cristo. Para os cristãos, é um dia de luto, reflexão e respeito ao sacrifício feito por Jesus. Dentro dessa tradição, a Igreja Católica orienta que os fiéis pratiquem a abstinência de carne como forma de penitência.
Segundo o costume religioso, a carne vermelha está associada a celebrações, luxo e prazer — tudo o que contraria o espírito de recolhimento e sacrifício proposto para essa data. Por isso, alimentos mais simples, como peixes, são preferidos nesse dia. O peixe, por sua vez, tem um significado simbólico na fé cristã, sendo um dos primeiros símbolos usados pelos seguidores de Jesus.
Neste raciocínio, o recomendado é evitar o consumo de carnes consideradas “quentes”, como as carnes vermelhas (bovino, suíno, cordeiro) e também as aves, como o frango.
A tradição incentiva o consumo de alimentos mais simples e simbólicos, sendo o peixe a principal alternativa, por representar pureza e ter forte ligação com a história do cristianismo. Além do peixe, outros alimentos recomendados são ovos, legumes, verduras, grãos, massas, frutas e preparações à base de soja ou vegetais, que podem substituir a proteína animal de forma equilibrada e respeitosa à data.
Origens históricas da prática
A orientação para evitar carne em dias santos remonta aos primeiros séculos do cristianismo, quando a Igreja começou a instituir formas de jejum e penitência para os fiéis. Durante a Idade Média, a abstinência foi reforçada como uma norma canônica, especialmente nas sextas-feiras do ano e, com maior rigor, na Sexta-feira Santa.
Naquela época, a carne era considerada um alimento associado à riqueza, à celebração e ao prazer dos sentidos — aspectos vistos como incompatíveis com a sobriedade exigida para recordar o sofrimento de Cristo. Já o peixe, abundante e comum entre as populações mais humildes, passou a ser símbolo de simplicidade e sacrifício.
Com a expansão do cristianismo, a tradição se espalhou por diversos povos e culturas. No Brasil, a prática chegou com os colonizadores portugueses e permanece forte até hoje, sobretudo entre os católicos, como uma demonstração de fé e respeito pela história religiosa.
Com o passar do tempo, essa conduta também passou a fazer parte da cultura em várias regiões do Brasil, sendo adotada por muitos mesmo fora do contexto religioso — seja por respeito à tradição familiar ou por costume popular.
Seja por crença ou por cultura, a Sexta-feira Santa segue sendo um momento marcado por silêncio, reflexão e, para muitos, pratos à base de peixe — reforçando o significado espiritual e histórico da data.